Prosa de palavras, de Karen Debértolis
Karen Debértolis, em sua “Prosa de Palavras”, coloca-nos em risco logo em seu primeiro texto.
“Língua” nos joga na cara palavras afiadas deste deserto de asfaltos e ignorâncias em que nos encontramos. Sem meias palavras e nem doces elogios, Karen abre-nos para o livro com palavras diretas como flechas que acertam o alvo, na mosca.
Nos textos que se seguem, suas palavras nos conduzem a imagens cotidianas, momentos de introspecção, reflexão e refinada lucidez. A dinâmica dos textos produz tensões e suspiros. Respiramos em meio a bombas, desertos áridos e cores foscas com “Pés da Nuvem” e “Amor”, como em um oásis que dá uma trégua e refaz energias para enfrentarmos novamente as areias escaldantes.
Adiante, Debértolis continua em sua constante necessidade de nos jogar na cara (e não é de hoje e nem apenas neste seu livro que ela teima em falar incômodos) imagens que não existem aparentemente, mas as quais pulsam atrás de nossas retinas. Vislumbra sonhos impregnados, cotidianamente, em cada um de nós, para finalizar com sangue que escorre e grita da seiva da natureza, seiva que antes era refrescante e alimentava a humanidade, mas que agora, vermelha e densa, resseca as nossas almas.
Karen Debértolis escreve como quem uiva em noites de lua cheia, como que para nos lembrar/avisar da vida, situação-espaço a ser encarada, a cada momento, antes do abismo final.
Não existe dia possível sem um risco a ser desvendado.
Fernanda Magalhães
Artista, performer, fotógrafa, arriscando-se ao escrever para “A Mulher das Palavras”
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